Por Alessandra Nahra Leal
1) Mas galinha você come, né?
2) Ah, mas vegetais são vivos também...
3) Ah, mas o homem é carnívoro desde os tempos das cavernas...
4) Mas esses animais são feitos para isso, eles não existiriam se não fosse para alimentar os homens...
5) Ah, mas as pessoas precisam comer carne...
6) Mas tem gente passando fome, imagina sem carne...
7) Comer carne é prejudicial ao meio-ambiente. Vejamos como: "No mundo inteiro, florestas estão sendo destruídas para sustentar o hábito de comer carne nas nações desenvolvidas. Entre 1960 e 1985, quase 40% de todas as florestas da América Central foram transformadas em pasto para a criação de gado. (...) Muito do excremento de animais criados para serem comidos flui, sem ser filtrado, para lagos e rios. (...) Para produzir meio quilo de carne, são necessários mais de nove mil litros de água. Menos água é gasta para produzir um ano de comida para um vegetariano puro do que um mês de comida para um carnívoro". (Dieta para uma nova América, de Jonh Robbins).
São inúmeros os motivos. Tantos, que seria impossível listar todos à mesa do almoço. Volta e meia, porém, algum não-vegetariano atira sobre o meu prato perguntas com tom de desafio. É para esses que agora resolvi explicar, de uma vez por todas, por que não como animais. Eu não sou do tipo que gosta de pregar. Não tento converter ninguém ao vegetarianismo, não aponto para o prato dos outros dizendo "ugh, você está comendo um cadáver". Mas os outros, não sei porque, sempre têm algo a dizer sobre minha opção alimentar. Para a maioria das pessoas, vegetarianos são meio ETs. Parece que esses têm dificuldade para entender que não comer carne é apenas mais uma opção que se faz na vida.
Muita gente pensa em vegetarianismo como uma religião. E das mais restritivas - afinal, não comer nem um peixinho? Depois de muito pensar e tentar entender porque tanta gente não suporta minha opção não carnívora, cheguei à conclusão de que o vegetarianismo, para alguns, é ameaçador. Certas pessoas se sentem atacadas - principalmente as mais inteligentes. Talvez porque, quando confrontadas com as razões de um vegetariano para ser vegetariano, elas são obrigadas a concordar que fazem um certo sentido.
Um vegetariano desafia o status quo – já que, desde criança, somos alimentados com carne e ensinados que a falta de bife na mesa é sinal de pobreza e meio caminho para a anemia. E então dê-lhe bife. Comer carne, portanto, é o normal. Certos vegetarianos são vegetarianos porque resolveram examinar o conceito de normalidade, rever atitudes e posições, e mudar velhos condicionamentos. O vegetarianismo pode ser, nesse sentido, revolucionário. E isso, ah, incomoda muita gente...
Quantas e quantas vezes eu tive que estragar meu almoço explicando para alguém porque não tem carne no meu prato – quando tudo que eu queria era apenas comer tranquilamente. E um argumento só não basta: as pessoas não entendem e tentam me converter de volta ao carnivorismo – que eu abandonei aos 14 anos, depois de muita picanha sangrenta lá nos pampas do Rio Grande do sul, onde nasci. Já são 16 anos de vegetarianismo, e realmente não há santo que me convença a comer carne de novo – e olha que minha santa avó continua tentando.
Ah, quanta bobagem já tive que ouvir por conta dessa minha posição. As perguntas são quase tantas e tão entediantes quanto as que eu tenho que ouvir sobre as minhas tatuagens. Vou enumerar algumas delas:
1) Mas galinha você come, né?
Resposta: galinha por acaso nasce em árvore? Não como nada que um dia teve uma face, pernas, caminhou por aí e me olhou.
2) Ah, mas vegetais são vivos também...
Resposta: eu sempre achei esse argumento dos mais ridículos. Claro que vegetal tem vida, mas vegetal não entra em decomposição assim que é arrancado da árvore – como carne entra em decomposição assim que morre, e vai decompor dentro da barriga de gente... Se não for arrancado da árvore ou do solo, o vegetal vai cumprir sua vidinha ali e se transformar, como a fruta, que fica madura e cai da árvore, voltando para o solo. Não vai sangrar, berrando, até que a morte piedosa o tire do sofrimento. Há uma diferença enorme entre colher uma maçã e cortar a garganta de uma vaca. Quando se colhe a maçã, a árvore não morre. Se você corta o galho de uma árvore, outro cresce no lugar, e isso certamente não pode ser dito de patas de animais. Os vegetais não têm sistema nervoso central como os animais, tampouco nervos ou cérebro. Eles não têm olhos que demonstram sofrimento. Não existem razões para acreditar que plantas sentem a dor que um boi sente ao ser abatido. Ou durante a sofrida existência no criadouro. Isso nos traz a outra questão que estou cansada de ouvir:
3) Ah, mas o homem é carnívoro desde os tempos das cavernas...
Resposta: é, então faça como ele e vá caçar seu alimento. Já dizia Isaac Singer, prêmio Nobel de literatura em 1978: "As pessoas dizem que o homem sempre comeu carne, como se fosse uma justificativa para continuar fazendo isso. De acordo com essa lógica, nós não deveríamos tentar prevenir pessoas de assassinarem umas às outras, já que isso também tem sido feito desde o início dos tempos".
Hoje em dia não precisamos caçar, porque criamos animais para o abate – e o sistema das fábricas de carne afasta a consciência do processo. Porque quando as pessoas vêem a picanha nas prateleiras do supermercado, aquela "comida" é completamente desconectada da sua origem. Poderia bem ser um pedaço de plástico fabricado pelo homem, porque é difícil fazer a conexão entre aquela coisa embalada para consumo e uma vaca, viva, um ser que sente. O mundo muda, e o que era natural antes pode passar a não ser.
4) Mas esses animais são feitos para isso, eles não existiriam se não fosse para alimentar os homens...
Resposta: esse deveria ser um argumento a favor do vegetarianismo, e não contra. Animais de abate são vistos hoje em dia como os negros eram vistos no passado: uma raça cuja única razão de existir é o serviço. E assim o absurdo da escravidão se perpetua com os animais. Porque deveríamos limitar as considerações morais e éticas apenas à raça humana? As fábricas de carne e ovos são casas de tortura. Por exemplo: "Animais sofrem extrema dor e privação nas fazendas-fábrica. Galinhas têm seus bicos cortados com lâmina quente, porcos têm seus rabos cortados e seus dentes removidos com alicate, e bois e porcos são castrados sem anestesia. Os animais vivem em espaços ínfimos e são injetados com hormônios e antibióticos para fazê-los crescer tão rápido que seus corações e órgãos freqüentemente não agüentam, tornando-os aleijados e causando ataques do coração. Finalmente, no abatedouro, eles são pendurados de cabeça para baixo e sangram até a morte, freqüentemente enquanto ainda conscientes". (People for the Ethical Treatment of Animals).
Não é uma imagem bonita, né? (a PETA tem um vídeo que mostra um pouco do horror, no site MeatStinks).
Na sociedade atual, a ética quase não está entre as prioridades. Mesmo quando existe, esse tipo de consideração não inclui os animais, principalmente os criados para comida. Esses estão sujeitos a situações de extrema crueldade que seriam inaceitáveis se ocorridas com pessoas ou até mesmo com bichos de estimação. De alguma maneira, criou-se um mecanismo pelo qual os "animais-comida" puderam ser confortavelmente colocados fora do direito ao tratamento digno. Como se fossem mais "coisas" do que seres vivos. ...e para evitar esse problema, os criadores cortam os bicos com lâmina quentes para evitar que vivendo tão apertado, galinhas bicam umas às outras devido ao estress.
5) Ah, mas as pessoas precisam comer carne...
Resposta: precisam nada. As pessoas estão é acostumadas a comer carne, e mudar nossos hábitos é a coisa mais difícil do mundo. Então passamos a achar argumentos para legitimar o que fazemos. Já dizia um professor meu da faculdade: certas pessoas querem mudar o mundo, mas não querem mudar uma vírgula nas suas vidas. No entanto, não se muda o mundo se não mudamos a nós mesmos... Sem querer enveredar pela questão filosófica, já foi provado que uma alimentação exclusivamente de fontes vegetais não deixa nada a perder para uma alimentação carnívora. Essa conversa de que precisamos de proteína, e que proteína só se encontra na carne, é bobagem. Claro que precisamos de proteína, mas feijão, soja, grão de bico, aveia e inúmeros outros vegetais têm proteína. Cem gramas de amêndoas, por exemplo, têm o dobro do cálcio contido em cem gramas de leite, e cem gramas de brócolis têm quase a mesma quantidade de cálcio que cem gramas de coalhada.
A maioria dos americanos come sete vezes mais proteína do que o necessário. E, ao contrário do que se acredita, o excesso de proteína pode causar osteoporose. Pesquisas demonstram que quanto maior o consumo de proteína, mais cálcio é "roubado" dos ossos. Um estudo realizado em 1983 pela Universidade de Michigan demonstrou que, aos 65 anos de idade, homens vegetarianos tinham uma perda óssea média de 3%; homens carnívoros, 18%. Entre as mulheres, as vegetarianas apresentavam 7% de perda óssea média, e as carnívoras, 35%.
A maioria dos americanos come sete vezes mais proteína do que o necessário. E, ao contrário do que se acredita, o excesso de proteína pode causar osteoporose. Pesquisas demonstram que quanto maior o consumo de proteína, mais cálcio é "roubado" dos ossos. Um estudo realizado em 1983 pela Universidade de Michigan demonstrou que, aos 65 anos de idade, homens vegetarianos tinham uma perda óssea média de 3%; homens carnívoros, 18%. Entre as mulheres, as vegetarianas apresentavam 7% de perda óssea média, e as carnívoras, 35%.
Já está provado que vegetarianos têm um sistema imunológico mais forte que carnívoros, e que carnívoros têm quase o dobro de chances de morrer do coração e uma probabilidade 60% maior de morrer de câncer.
O consumo de carne e derivados do leite tem sido conclusivamente ligado a incidência de diabetes, artrite, osteoporose, obesidade, asma, impotência e artérias entupidas (afinal, não existe colesterol em plantas). E já que estamos falando de problemas de saúde causados, ou amplificados, pela dieta carnívora, vale mencionar os hormônios, aditivos, corantes e antibióticos que se consome junto com a carne. Precisar comer carne, ninguém precisa. Então me venha com outro argumento...
6) Mas tem gente passando fome, imagina sem carne...
Resposta: esse é um argumento extremamente elitista. Carne é cara, normalmente não acessível a populações de baixa renda. A indústria da carne na verdade rouba alimentos dessas pessoas. Vejamos: o crescimento do consumo de proteína animal em países em desenvolvimento levou a um enorme aumento no consumo de grãos que alimentam o gado que alimenta as camadas mais prósperas da população. Ou seja, menos grãos vão para o povo - porque vão para o gado que apenas os ricos podem consumir. Atualmente, animais de abate consomem 36% dos grãos produzidos mundialmente, de acordo com estimativas do International Food Policy Research Institute (IFPRI). Enquanto isso, 840 milhões de pessoas passam fome (um número que pode subir, se aumentar a demanda para a carne) - segundo publicou a revista britânica New Scientist na edição de 18 de março de 2000. "A produção de grãos não aumentará rápido o bastante para suprir as necessidades dos animais de abate e da população", diz Lester Brown, do Worldwatch Institute, em Washington. Nos Estados Unidos, os animais consomem mais de 80% do milho produzido, e mais de 95% de toda a aveia plantada. Um acre de pasto que produz cerca de 75 quilos de carne pode produzir 9.000 quilos de batatas. E isso nos leva a um sério problema que ninguém pergunta sobre, porque ninguém faz a conexão: "Pensa que pode ser um ambientalista carnívoro? Pense novamente" - é o que diz esse poster da PETA
7) Comer carne é prejudicial ao meio-ambiente. Vejamos como: "No mundo inteiro, florestas estão sendo destruídas para sustentar o hábito de comer carne nas nações desenvolvidas. Entre 1960 e 1985, quase 40% de todas as florestas da América Central foram transformadas em pasto para a criação de gado. (...) Muito do excremento de animais criados para serem comidos flui, sem ser filtrado, para lagos e rios. (...) Para produzir meio quilo de carne, são necessários mais de nove mil litros de água. Menos água é gasta para produzir um ano de comida para um vegetariano puro do que um mês de comida para um carnívoro". (Dieta para uma nova América, de Jonh Robbins).
Depois de todos esses motivos, fica fácil entender porque eu passo a picanha: penso que a ética que forma a base da sociedade do futuro deve se estender a todas as espécies e ecossistemas. Eu também acredito, porém, que essa é uma decisão completamente individual. É a melhor opção para mim, pode não ser a melhor para você - simplesmente porque não existe algo que seja universalmente melhor. Cada um que ache seu caminho. Por isso eu não tento convencer ninguém. Agora posso comer meu tofu?
ADOREI!!!!
ResponderExcluirCONCORDO COM TUDO, COMO DIRIA UMA AMIGA, "SOU FELIZ SEM CARNE"!!!
BJSSS TATI