domingo, 17 de maio de 2009

Resposta à matéria: Vegetarianismo pode esconder distúrbios alimentares em adolescentes

Na matéria Vegetarianismo pode esconder distúrbios alimentares em adolescentes, publicada em 11 de maio de 2009 pelo caderno Folhateen do jornal eletrônico Folha Online, o Sr. Chico Felitti busca, com muita falta de habilidade, desinformar o público e distorcer os fatos sobre a saúde e hábitos de jovens vegetarianos. A matéria publicada na Folha Online pode ser lida aqui: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u563589.shtml

Para ilustrar a manipulação de informação à qual o leitor é induzido, a matéria informa que a porcentagem de vegetarianos que usam a dieta para controlar o peso ou para mantê-lo é de 20%. Qual seria a porcentagem de jovens onívoros que usam a dieta para perder peso? Se a ideia era fazer um alerta com relação ao comportamento dos vegetarianos, o jornalista falhou em colocar o problema em perspectiva ao deixar de comparar o comportamento dos jovens vegetarianos com o comportamento da norma.

Mais adiante, na mesma linha, o texto sugere que “parte” desses jovens que usam a dieta vegetariana para perder peso sofreriam de anorexia e bulimia, mas o autor falha em citar qual seria a porcentagem de anoréxicos e bulímicos dentro dessa porcentagem de 20%: “Dentre os vegetarianos, dois de cada dez admitiram usar a dieta verde para perder peso ou para mantê-lo. No controle da balança, usam táticas como comer pouco e vomitar“. Certamente ele quis que alguns desses 20% usam tais táticas, e não todos eles, o que poderia ser qualquer número entre 1 ou 108 indivíduos (o estudo avaliou 2.516 jovens, sendo 108 vegetarianos). Mas da maneira como foi escrito, ao ler a frase acima, o leitor desatento poderá facilmente ser levado a crer que os 20% citados são todos anoréxicos e bulímicos. Ademais, a porcentagem de jovens vegetarianos que sofrem desses distúrbios é maior do que a porcentagem de jovens onívoros? Se não é, qual foi o propósito em causar alarde?

O jornalista fecha com chave de ouro o penúltimo parágrafo, onde ele declara: “Há exceções: filho de vegetarianos, Juliano Vilela, 16, nunca tomou pílulas. Tampouco comeu carne. ‘Não sei qual é o gosto e nem quero saber.’”. Exceções?! Se estávamos falando de 20% de jovens que usam a dieta para controlar o peso (o que não caracteriza distúrbio), sendo que apenas uma fração (não informada) desses sofreria de distúrbios como anorexia e bulimia, quando foi que todo o restante (mais de 80% do total) passou a ser exceção? Pelos meus cálculos (e usando os números do próprio autor), qualquer número superior a 80% é maior do que qualquer número inferior a 20%, o que significa que a exceção (citada por ele como saudável) é a regra, e a regra (citada por ele como ortoréxica) é a exceção. Em nome da sanidade da informação, espero sinceramente que a falta de perspicácia do autor e a gafe da editoria da Folha Online ao deixar um texto com tamanho potencial de desinformação ser publicado sejam a exceção e não a regra.

Operações matemáticas primárias e expectativas à parte, o texto contém “erros” grotescos de informação de cabo a rabo. A abertura do texto sugere que o fato de 20% dos jovens que se dizem vegetarianos sofrerem de distúrbios alimentares seria um bom contra-argumento para a alegação de que quem não come carne é mais saudável. Será que o autor realmente pretendeu, usando esse único argumento, derrubar toda a sólida argumentação em favor da adoção de uma dieta vegetariana? Proeza difícil essa. Mas espere aí, está escrito ali no início do texto que 20% dos jovens vegetarianos sofrem de distúrbios alimentares? Sim, está escrito exatamente assim logo no primeiro parágrafo. Mas como já vimos, mais adiante no texto está escrito que 20% dos jovens usam a dieta para controlar o peso, o que não caracteriza distúrbio alimentar. O que é sugerido é que apenas uma parte (não declarada) desses 20% sofreria de distúrbios alimentares. Bom, estamos de volta às dificuldades com a ciência aritmética básica.

Já no ramo da ciência da saúde, uma vasta literatura científica aponta de maneira consistente para o fato de que vegetarianos (crianças, jovens e adultos) são mais saudáveis do que os seus parceiros onívoros, gozando de melhor saúde e longevidade. Aliás, a própria matéria em questão, em raros trechos dispersos entre a condução manipulada e maravilhas literárias como ‘proteger os bichinhos’ e ‘vegetas’, informa que:

* 4,3% dos jovens americanos são vegetarianos;
* 25% dos jovens americanos acha o vegetarianismo “cool” (bacana);
* a porcentagem de vegetarianos no Reino Unido cresceu de 1,8% nos anos 80 para 7% em 2005;
* nas palavras da autora do estudo: “vegetarianos têm menos chances de ter doenças cardíacas e diabetes”;
* nas palavras do autor do texto: “os ‘vegetas’ com dieta balanceada tendem a ingerir mais vitaminas e menos gordura do que quem come carne”;
* vegetarianos estão insatisfeitos com o atendimento prestado por nutricionistas.

Seja para os profissionais da área de saúde ou do jornalismo, a informação correta acompanhada de uma boa dose de aritmética básica é prescrição essencial.

George Guimarães
Nutricionista especializado em dietas vegetarianas
RG: 13.564.803-8
Fone: 11-5585-3475
e-mail: nutriveg@terra.com.br


Para ilustrar a manipulação de informação à qual o leitor é induzido, a reportagem declara que a porcentagem de vegetarianos que usam a dieta para controlar o peso ou para mantê-lo é de 20%. Qual seria a porcentagem de jovens onívoros que usam a dieta para perder peso? Se a ideia era fazer um alerta com relação aos vegetarianos, o jornalista falhou em colocar o problema em perspectiva ao ter falhado em comparar o comportamento dos jovens vegetarianos com o comportamento da norma.

Mais adiante, na mesma linha, o texto sugere que “parte” desses jovens que usam a dieta vegetariana para perder peso sofreriam de anorexia e bulimia, mas o autor falha em citar qual seria a porcentagem de anoréxicos e bulímicos dentro dessa porcentagem de 20%: “Dentre os vegetarianos, dois de cada dez admitiram usar a dieta verde para perder peso ou para mantê-lo. No controle da balança, usam táticas como comer pouco e vomitar“. Poderiam ser qualquer número entre 1 ou 108 indivíduos (o estudo avaliou 2.516 jovens, sendo 108 vegetarianos). Ao ler a frase acima, o leitor desatento pode facilmente ser levado a crer que os 20% citados são todos anoréxicos e bulímicos. A porcentagem de jovens vegetarianos que sofrem desses distúrbios é maior do que a porcentagem de jovens onívoros? Se não é, qual foi o propósito em causar esse alarde?

No penúltimo parágrafo, o jornalista fecha com chave de ouro: “Há exceções: filho de vegetarianos, Juliano Vilela, 16, nunca tomou pílulas. Tampouco comeu carne. ‘Não sei qual é o gosto e nem quero saber.’”. Se estávamos falando de 20% de jovens que usam a dieta para controlar o peso (o que não caracteriza distúrbio), sendo que apenas uma fração (não informada) desses poderia sofrer de distúrbios como anorexia e bulimia, quando foi que todo o restante (mais do que 80% do total) passou a ser exceção? Usando os números do próprio autor, pelos meus cálculos qualquer número superior a 80% é maior do que qualquer número inferior a 20%, o que significa, que a exceção citada como saudável é a regra e a regra citada como exceção é a exceção. Em nome da saúde da informação, espero que a falta de perspicácia do autor e a gafe da editoria da Folha Online ao ter deixado um texto com tamanho potencial de desinformação ser publicado sejam a exceção e não a regra.

Operações matemáticas primárias e expectativas à parte, o texto contém “erros” grotescos de informação de cabo a rabo. A abertura do texto declara que o fato de que 20% dos jovens que se dizem vegetarianos sofrerem de distúrbios alimentares seria contra-argumento para a alegação de que quem não come carne é mais saudável. O autor realmente pretendeu derrubar toda a argumentação em favor da adoção de uma dieta vegetariana com esse único argumento? Proeza difícil essa. Mas espere aí, ele escreveu que 20% dos jovens vegetarianos sofrem de distúrbios alimentares? Sim, está escrito exatamente assim no primeiro parágrafo do texto. Mas ele não havia dito mais adiante no texto, como já foi citado, que 20% dos jovens usavam a dieta para controlar o peso e apenas uma porcentagem (não declarada) desses sofria de distúrbios alimentares? Bom, estamos de volta às dificuldades com a ciência aritmética básica.

Já no ramo da ciência da saúde, uma vasta literatura científica aponta de maneira consistente para o fato de que vegetarianos (crianças, jovens e adultos) são mais saudáveis do que os seus parceiros onívoros, gozando de melhor saúde e longevidade. Aliás, a própria matéria em questão, em raros trechos dispersos entre a condução manipulada e maravilhas literárias como “proteger os bichinhos” e “vegetas”, informa que:

* 4,3% dos jovens americanos são vegetarianos;
* 25% dos jovens americanos achava o vegetarianismo “cool” (bacana);
* a porcentagem de vegetarianos no Reino Unido cresceu de 1,8% para 7% dos anos 80 para 2005;
* nas palavras da autora do estudo: “vegetarianos têm menos chances de ter doenças cardíacas e diabetes”;
* nas palavras do autor do texto: “os ‘vegetas’ com dieta balanceada tendem a ingerir mais vitaminas e menos gordura do que quem come carne”;
* vegetarianos estão insatisfeitos pelo atendimento prestado pelos nutricionistas.

Seja para os profissionais da área de saúde ou do jornalismo, a informação correta acompanhada de uma boa dose de aritmética é prescrição essencial!

George Guimarães
Nutricionista especializado em dietas vegetarianas
e-mail: nutriveg@terra.com.br
site: www.nutriveg.com.br

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